Topsyturvy: liberdade musical além dos formatosMogi das Cruzes, na Grande São Paulo, teve uma das mais prolíficas e instáveis cenas no underground da segunda metade dos anos 2000.
Bandas implodiam com a mesma força e espontaneidade com que surgiam - e mais tarde lá estavam os integrantes montando outras duas ou três bandas novas tão boas quanto ou melhores que a anterior, e voltavam a implodir.
Esse movimento de finitude e renascimento, desconstrução e construção, pode ser ouvido em cada compasso torto do Topsyturvy, um trio que incorpora todos os espíritos inquietos que vagam por sua cidade natal numa mistura que eles mesmos chamam de "rock abrasileirado e frenético". Desde 2008, a banda formada por Alexandre Lima (guitarra e vocal), Gustavo "Gummer" Rodrigues (bateria) e Athos Araújo (baixo) é um caso raro de músicos que descarregam milhares de notas por minuto e, mesmo assim, negam a virtuose pela virtuose.
A cada show, enquanto os riffs e as quebras de ritmo se sucedem capturando os ouvidos incautos, surge uma ponte sonora que liga o Alice In Chains ao Frank Zappa circa "Zoot Allures", construída com vigas de Queens Of The Stone Age, blocos de System Of A Down e pavimento fusion, dando vazão à paranóia urbana que infesta a persona por trás dos vocais. E olha que a fome de palco é o destaque do trio: até 2014, o Topsyturvy fez quase 200 apresentações em dezenas de cidades dentro e fora do Estado de São Paulo.
Mas a música livre e desgovernadamente sempre é mais importante do que qualquer referência - até mesmo do que o próprio conceito de "obra", uma sutileza que se reflete nos nomes das músicas, que parecem ser batizadas com as primeiras palavras que vêm à cabeça dos integrantes: "Feliz", "Tambor", "Cretina", "Sanfona" e "DeNada", só para citar alguns exemplos.
O primeiro EP, entitulado "-1", veio em 2009 e trazia três músicas que no ano seguinte apareceriam também no primeiro disco da banda, "Topsyturvy", tudo isso na época em que a banda ainda era um quarteto. Com a nova formação em trio, veio o EP "Noises" em 2012 com cinco músicas - ou algo assim, já que no segundo semestre de 2014 a banda lança um novo registro de cinco canções inéditas que os integrantes dizem completar o disco "Noises", que começaram a lançar (?) dois anos antes.
Enfim, nomes não importam, formatos tampouco. Para o Topsyturvy, a música é livre como uma jam infinita e assim deve permanecer.
Por Fernando Lalli
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Impressões:
“Uma hora, você acha que vem uma guitarrada surf punk, de repente eles quebram pra uma síncope de batera/baixo que deixaria qualquer Egberto Gismonti orgulhoso. De repente, na mesma música, uma textura de microfone com uma guitarrinha que, como a letra vem em inglês, poderia ser o Velvet Undeground. Aí depois parece que é The Clash , ou Metallica, ou Rancid. Sério, bicho, não vou tentar descrever mais nada não. É muito doido” – Punknet (08/dezembro/2013).
“Sou como se o Grand Funk dos primeiros anos viajasse de ácido e resolvesse tocar uma espécie de punk prog recheado com a imprevisibilidade de Frank Zappa!” – por Ricardo Seelig Collectors Room (11/novembro/2013).
“Com uma guitarra 'suja' e precisa, um baixo que “gritava” linhas mais do que precisas e nada lineares, além de um baterista que prima pela pancada sem deixar a técnica e, principalmente, a emoção de lado, a banda fez uma apresentação 'arrasa quarteirão'. Quem não conhecia a banda ficou encantado com o que viu no palco, pois ali transpirava-se rock da melhor qualidade e mostra para muitos desacreditados, que o rock vai muito bem, obrigado.” - por Zine Canibal Canibal Vegetariano (02/maio/2013).
“A banda passeia por ritmos, como o reggae em 'Reggae' e o samba em 'Sambo', não raro se mostrando brasileira a despeito das letras em inglês. A improvisação, para a qual as canções dão muito espaço, se expande ao vivo, e a dosagem dessa liberdade com a clara não-chatice das canções é feita com uma maestria raramente vista” - por Ecult (01/março/2013).