Release
Com foco na articulação da palavra, em seu campo polissêmico e sensorial, O Grande Barco funde rap, reggae, xote e outros ritmos à influência da música eletroacústica, criando assim uma sonoridade própria onde voz, elementos eletrônicos, flauta e guitarra dão os tons das composições. Com dois álbuns, Um Dedo de Prosa, Uma Mão de Poesia (2005), produzido por Alfredo Bello, que acompanha o livro homônimo, de Sids Oliveira, e O Grande Barco (2013), este produzido por Luiz Oliviéri, que conta com as participações especiais de Alfredo Bello aka Dj Tudo, Marta Carvalho e do próprio Oliviéri. Neste álbum o grupo traz consigo, também, citações de Walt Whitman, João Guimarães Rosa, Chico Science e João Cabral de Melo Neto; soltam um viva a Maroca, Poroca e Indaiá (ceguinhas de Campina Grande-PB), em Elas na Feira, e pedem o tom, em memória, a Chico Science, em Ciranda de Ciranda, emitindo, assim, dicas de suas leituras e trajetórias no seu fazer artístico. Formação: Davi Abreu (flauta e programações), Leandro Morais (guitarra) e Sids Oliveira (voz e programações).
Curiosidades
Em 11 de agosto de 1998 foi realizado Palavra Voando – Poemúsica, evento de poesia e música, no Espaço Cultural da 508 sul, hoje Espaço Cultural Renato Russo, onde se apresentaram Maya Desnuda (Sids Oliveira, Renato Amaral, Daniel Abreu, Janaína Sabino, Laércio Pimentel, George Lacerda e Renato Carvalheira), 2 ou 3 Coisas que Sei Dela (Francisco K, Alfredo Bello e Willis) e Cynical Brothers (Solymar Cunha, Gérson Deveras e Geraldo Horta). Desde então Sids tem adotado o termo “Poemúsica” em seus trabalhos, que vale tanto como referencia histórica, em termos de trajetória, como faz alusão às duas principais linguagens contidas em seus trabalhos/parcerias, poesia e música. Em recente pesquisa foi constatado que o termo “Poemúsica” nasceu em Brasília, mais precisamente na UnB, um pouquinho antes do referido evento acima citado, criado pelos músicos e poetas do mesmo, mas que tem sido usado pelo Brasil afora quando se trata de eventos com poesia e música “juntinhos”.
A música Toque foi feita em homenagem às crianças especiais e ao trabalho desenvolvido com elas que passa, essencialmente, pelo toque, pelo tocar, isso de acordo com a visão de Sids que trabalha com o ensino especial, tocando.
Tantinho do Mundo veio de uma cisma de Sids, diga-se boa cisma, com o potente verso “o sertão é do tamanho do mundo”, de João Guimarães Rosa, onde a reverberação do mesmo fez com que Sids afirmasse que o Gama-DF, a pequena cidade satélite em que Sids cresceu, é simplesmente “um tantinho do mundo/ um risinho do fundo/ um chorinho profundo”… e mais “é o que me leva/ e trás à você”.
Quando uma música inspira a outra… Foi assim: Daniel Abreu, dialogando com O Grande Barco em sua segunda fase, criou a música Falar é Cantar que foi complementada com letra, daí veio o nome, e melodia de voz por Sids Oliveira. Acontece que Sids já tinha a letra e a levada de Elas na Feira que, de certa maneira, casava com a música, mas que chamava para uma pegada mais forte. Intrigado, no bom sentido, Sids começou a mexer no Reason (programa de computador de edição de áudio), compartilhou seus experimentos e ideias com Davi Abreu e assim nasceu Elas na Feira.
Leandro Morais já chegou tocando antes mesmo de ensaiar ou conhecer as músicas. Davi Abreu o convidou para o grupo e o mesmo foi conhecer as músicas na passagem de som, assim decidiu por tocar percussão e violão em sua estreia, o mesmo é violonista. Isso se deu no show Sons Visuais e Imagens Sonoras, em dezembro de 2010, no Balaio Café, Asa Norte, Brasília-DF. Esse mesmo show também aconteceu no Espaço Semente, Gama-DF, e Espaço Cultural Mosaico, Asa Norte , Brasília-DF.
Bio
Foi por entre a leitura de A Voz do Silêncio, de Helena P. Blavatsky sobre Hinayana “Pequeno Veículo” e Mahayana “Grande Veículo”, nomes das duas grandes escolas de conhecimento religioso e filosófico do budismo do norte, que, em alusão a Mahayana “Grande Veículo”, surgiu O Grande Barco (friso: o grupo não tem nenhuma ligação com as escolas acima citadas). Sids se encontrava em fase de produção de seu primeiro livro Um Dedo de Prosa, Uma Mão de Poesia (2005), este seria acompanhado de um cd com suas diversas parcerias musicais (músicos de Brasília-DF, de São Paulo-SP e em transito), daí que o nome O Grande Barco, abarcando essa leva de criatividade humana, soou muito bem. Participaram desse albúm nomes como: Simone Sou, Alfredo Bello, Daniel Abreu, Renato Amaral, George Lacerda, Luiz Spiga, Sérgio Cepa, Marcelo Monteiro, entre outros, e foi produzido por Alfredo Bello.
Antes, porém, Sids já vinha brincando com linguagens, entre 1997 e 2001, com o grupo Maya Desnuda, fundado por ele e Renato Amaral que chamou Daniel Abreu e, depois, George Lacerda, Laércio Pimentel, Janaína Sabino e Renato Carvalheira somaram-se ao trabalho (primeira formação do grupo). Já entre 2001 e 2004 com o Poesia Oblíqua, em parceria com Sérgio Cepa, foram dados os primeiros passos com elementos eletrônicos em comunhão com guitarra e poesia, claro. Durante todo esse processo parcerias com artistas plásticos (Rafaela Nepomuceno, Andrey Hermuche, Regina Pessoa), fotógrafos e artistas visuais (Randal Andrade, Dalton Camargos e Milton Marques), confirmaram o propósito expansivo e de experimentação do grupo para além da poesia e da música – mote principal de interação do mesmo.
Agora, em seu segundo disco, O Grande Barco (2013) conta com uma formação solidificada, desde 2007, com Davi Abreu, Sids Oliveira e Leandro Morais que juntou-se ao grupo em dezembro de 2010. Com a participação de Alfredo Bello, Luiz Oliviéri e Marta Carvalho o disco trilha com texturas sonoras próprias entre ritmos de reggae, rap etc. e influências da música eletroacústica, cantando a cidade de Brasília, em seu centro e periferia (Descalço, Tantinho do Mundo e Ciranda de Ciranda), com temas atuais como as pesquisas de célula tronco (Célula), ou existencial (Eu Rio), para citar alguns. Há, também, citações de João Guimarães Rosa (Tantinho do Mundo), Walt Whitman (Toque), João Cabral de Mello Neto e Chico Science (O Capoeira) e uma homenagem às ceguinhas de Campina Grande-PB, Maroca, Poroca e Indaiá (Elas na Feira). Essas inserções fomentam o grupo como um grande veículo de interações humanas e de linguagens. O disco foi produzido por Luiz Oliviéri e O Grande Barco.